Também hoje cuspirei em Hegel

Também hoje cuspirei em Hegel Por Annalena Benini

Cinquenta anos depois de Carla Lonzi, graças a ela e às outras, podemos não nos sentir mais oprimidas. Mas não acabou aí.

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A ideia do poliamor é fascinante: e a sua realização? Por Martina Lodi

Tendemos a olhar apenas para as vantagens da suposta liberdade: por que nos privar de algo ou de alguém que pode nos dar prazer? Por que não podemos escolher tudo?

Quão frágeis somos

Quão frágeis somos Por Annalena Benini

O mistério de Adolescência e os filhos que querem ser como os pais. É difícil encarar a verdade que está bem diante de nós. 

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Uma rede de pais em quem confiar Por Stephanie H. Murray

Construir uma comunidade em que o cuidado com os filhos é compartilhado pode ser um apoio fundamental para as famílias. Mas, para isso, é preciso confiar nos outros e abrir mão do controle excessivo.

Efeito casamento

Efeito casamento Por Raffaella Silvestri

Na transição de bruxa feminista à mulher casada, me tornei muito mais atraente para os homens héteros. Após o casamento: uma fase excitante e estranhamente pacífica de uma nova liberdade (e de um desejo mimético).

Alegoria da política

Alegoria da política Por Giorgio Agamben

A verdadeira sabedoria não é uma ciência – é, antes, uma saída.


Ciência e felicidade Por Giorgio Agamben

A felicidade jamais pode ser separada das simples e banais palavras que trocamos, do grito e do riso de alegria, nem da emoção que nos faz chorar, não sabemos se de dor ou de prazer

Ciência e felicidade
17.02.2025

Ciência e felicidade Por Giorgio Agamben

Apesar da utilidade que delas acreditamos retirar, as ciências não podem nos fazer felizes, porque o humano é um ser falante, que tem necessidade de exprimir em palavras alegria e dor, prazer e aflição, enquanto a ciência tem em vista, em última análise, um ser mudo, o qual pode ser conhecido numero et mensura assim como todos os objetos do mundo. As línguas naturais que os humanos falam são, no limite, um obstáculo ao conhecimento e, enquanto tais, devem ser formalizadas e corrigidas, eliminando como «poéticas» as redundâncias às quais, pelo contrário, sobremaneira nos atentamos quando exprimimos nossos desejos e nossos pensamentos, nossos afetos e nossas aversões. Justamente por se dirigir a um humano mudo, a ciência jamais pode produzir uma ética. Que os cientistas ilustres tenham realizado em nome dos interesses da ciência, sem escrúpulo algum, experimentos nos corpos dos deportados dos Lager ou dos condenados nas prisões americanas não deveria, nesse sentido, nos surpreender. A ciência se funda, com efeito, na possibilidade de separar em todos os níveis a vida biológica de um ser vivente de sua vida de relação, a muda vida vegetativa que os humanos têm em comum com as plantas de sua existência espiritual de ser falante. É preciso lembrar que hoje os humanos parecem ter deixado de lado tudo aquilo em que acreditavam para confiar à ciência uma expectativa de felicidade que só poderá ser desiludida e traída. Como os últimos anos mostraram para além de qualquer dúvida, humanos que olham à própria vida com os olhos de seu médico estão, por isso, dispostos a renunciar às suas mais elementares liberdades políticas e a submeter-se ilimitadamente aos poderes que os governam. A felicidade jamais pode ser separada das simples e banais palavras que trocamos, do grito e do riso de alegria, nem da emoção que nos faz chorar, não sabemos se de dor ou de prazer. Deixemos aos cientistas o silêncio e a solidão dos números, cuidemos com lucidez para que não invadam o âmbito da ética e da política, que é o único que pode verdadeiramente nos satisfazer.



Retrato de Giorgio Agamben