A primeira coisa que Marishka fazia todas as manhãs era recolher os ovos de onde quer que as galinhas os tivessem botado no feno do celeiro e apanhar o balde de leite do alpendre deixado pelo menino que ordenhava a vaca. Ela então soprava as brasas no fogão para atiçar o fogo, arrancando algumas páginas do último livro que estivesse lendo para ajudar.
Eu a tinha convencido a ler livros, e lhe dado um exemplar de Orgulho e preconceito traduzido para o romeno – Mîndrie si Prejudecată. No começo ela achou que eu estava brincando.
«Experimenta», eu disse, «Você pode gostar. De qualquer modo, vai aprender alguma coisa sobre o ridículo povo inglês.»
«Eu não leio livros.»
Mas ela sabia ler, e um dia ela o pegou, o virou nas mãos e começou a ler. Depois de alguns dias ela estava fazendo comentários. Eu me divertia com a sua indignação.
«Darcy é tão arrogante», ela disse ao terminar um capítulo, largando o livro.
Mas à medida que lia, o exemplar ficava cada vez mais fino conforme ela arrancava páginas para acender o fogo. A natureza móvel e transitória das coisas estava em seu sangue. Ela viajava nos livros como em uma jornada, e quando os terminava, eles não estavam mais lá. A ideia de livros como relíquias para gerações futuras são para pessoas estabelecidas. Para ela, eles eram momentos passageiros de prazer, como dançar.
Descrição
Não é de se estranhar que Patrick Leigh Fermor tenha dito que tinha esse livro «muito perto de seu coração». No início da década de 1930, Leigh Fermor havia de fato viajado pela Transilvânia a caminho de Constantinopla, extraindo de lá talvez o melhor material para seu grande livro de viagens, Between the Woods and the Water. Para William Blacker, no entanto, essa mesma região da atual Romênia parece não ser o destino de uma viagem, mas sim um estado da mente ou dos olhos. Blacker a visita quase por acaso, logo após a queda do Muro de Berlim e, encantado com tudo o que vê, decide se estabelecer em seu distrito mais remoto, Maramureş, adaptando-se a um estilo de vida que permanece inalterado há séculos. Mas o demônio da inquietação logo o atrai mais para o sul, onde as montanhas se inclinam para as colinas da Terra dos Saxões. Lá, Blacker encontra um mundo completamente diferente e muito mais agitado. Os saxões limpos e impecáveis emigraram em grande parte para a Alemanha, e em suas casas se estabeleceram os ciganos, cuja capacidade de inventar histórias e depois se fazer passar por elas é pelo menos tão impressionante quanto sua incapacidade de se livrar delas. A partir daí – ou seja, a partir do momento em que Natalia e Marishka, duas irmãs muito diferentes e igualmente inesquecíveis, entram na vida de Blacker – o que começou como uma elegia serena a uma Europa desaparecida se transforma em uma rapsódia cigana: às vezes lânguida, às vezes selvagem, mas, de qualquer forma, impossível não se render a ela. O resultado é um livro que é instintivamente descrito como «extraordinário, diferente de qualquer outro, uma história em si». Foi assim que Tom Maschler, anos atrás, definiu o manuscrito de outro herdeiro direto de Leigh Fermor, um rapaz inglês desconhecido que, ao final de uma longa jornada, decidiu se reinventar em uma terra quase inexplorada: a Patagônia.
William Blacker vem de uma família anglo-irlandesa, mas passou a maior parte dos últimos trinta anos na Transilvânia e em Maramureş,. Atualmente, ele vive entre a Inglaterra, a Romênia e a Itália.
Ficha Técnica
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Peso
600 g -
Tradução
Erika Nogueira Vieiria -
Dimensões
20 cm x 2 cm x 10 cm cm -
Projeto Gráfico
CCRZ -
Ano de Publicação
2025 -
Páginas
440